Descubra tudo sobre o Lúpus eritematoso sistêmico: sintomas, tratamentos e como lidar com essa condição autoimune que afeta milhões em todo o mundo.
“Não é lúpus”, repetia o famoso personagem de TV Dr. House a um paciente intrigado com seus sintomas. O Lúpus eritematoso sistêmico pode ter muitas facetas diferentes e pode confundir muitos médicos antes que um diagnóstico possa ser feito com certeza.
Mas quando você vê a erupção cutânea avermelhada em forma de borboleta no rosto; quando percebe dor nas articulações e inchaço nas pernas; quando os dedos das mãos e dos pés mudam de cor com o frio e os anticorpos ANA são identificados no sangue, até mesmo o Dr. House reconheceria que se trata de lúpus, provavelmente o tipo mais comum e grave: o tipo que afeta vários órgãos do corpo e, portanto, é conhecido como “lúpus sistêmico”.
O que é Lúpus eritematoso sistêmico?
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune na qual as defesas do próprio corpo – os linfócitos que são ativados por um agente infeccioso – dão errado e geram anticorpos contra as células do próprio corpo. Esse autoataque gera um processo inflamatório em vários órgãos, que pode levar à dificuldade de filtrar substâncias nocivas nos rins ou na respiração, e pode até mesmo desencadear sintomas neurológicos, como delírio ou problemas de memória.
Na América Latina, não há dados precisos sobre o lúpus, mas a prevalência é estimada entre 35 e 92 pacientes por 100.000 habitantes. No Brasil, a prevalência do lúpus eritematoso sistêmico é de 65.000 pessoas, sendo a maioria mulheres.
Enquanto os sintomas mais comuns são dores nas articulações, manchas na pele e queda de cabelo. A pressão alta e os problemas de tireoide também ocorrem em mais de 10% dos pacientes, de acordo com especialistas da UNAM (Universidade Nacional Autônoma do México).
Estima-se que 10 a 15% dos pacientes com lúpus em todo o mundo morrerão prematuramente. A mortalidade na América Latina é alta em relação a outras regiões do mundo, talvez devido à influência dos genes ameríndios e ao baixo nível socioeconômico, de acordo com especialistas.
Sintomas: diferenças do LES entre homens e mulheres
Os pacientes com LES geralmente apresentam enorme fadiga, depressão e ansiedade. Os problemas de pele aparecem cedo, entre os 20 e 40 anos de idade. As mulheres têm 9 vezes mais probabilidade de sofrer de lúpus eritematoso sistêmico do que os homens.
Até agora, acreditava-se que isso estava relacionado aos hormônios femininos (principalmente o estrogênio), mas um novo estudo revelou recentemente que o material genético no cromossomo X, o mesmo cromossomo ligado à determinação do sexo feminino, também está envolvido.
Os homens têm um cromossomo sexual X e um Y no núcleo de todas as suas células. As mulheres, por outro lado, têm dois cromossomos X em suas células. Um deles deve ser inativado no nascimento, mas às vezes isso não acontece totalmente e alguns genes permanecem ativos, o que pode levar a distúrbios autoimunes.
De acordo com o novo estudo publicado na revista Cell, a camada de proteína de partes do cromossomo X que escaparam da inativação normal atrai anticorpos como se fosse um agente infeccioso invasor. Essa reação defensiva pode ser uma das causas do lúpus e de outras doenças autoimunes em mulheres.
A alta exposição ao sol, que desencadeia reações de defesa na pele, e o fumo são dois outros fatores causais do lúpus. O tabagismo também aumenta em três vezes o risco de ataques cardíacos em pessoas com lúpus.
Seja qual for a causa dessa doença autoimune, o paciente produz anticorpos que são muito característicos do lúpus: anticorpos antinucleares (ANA), anti-DNA e anti-SM. Quando detectados no sangue, eles confirmam o diagnóstico clínico de lúpus.
As mulheres com LES tendem a apresentar mais problemas de pele e artrite do que os homens. Nos homens, o lúpus eritematoso sistêmico geralmente é mais grave e pode levar a ataques cardíacos e nefrite lúpica, uma complicação renal grave que requer diálise e pode causar a morte.
Ambos podem apresentar serosite, uma inflamação do tecido que envolve um órgão, seja a inflamação da pleura no pulmão, do pericárdio no coração ou do peritônio no intestino.
Tratamentos cada vez mais avançados para Lúpus eritematoso sistêmico
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença crônica que afeta mais de 5 milhões de pessoas em todo o mundo e não pode ser curada, mas pode ser tratada para evitar crises ou recaídas periódicas. O tratamento depende da gravidade e da área do corpo em que os sintomas ocorrem.
Os medicamentos anti-inflamatórios comuns geralmente são usados para evitar a dor nas articulações. Entretanto, quando esses medicamentos não são suficientes, os corticosteroides, como a prednisona, são indicados, seja na forma de cremes para a pele, por via oral ou por injeção.
O medicamento antimalárico hidroxicloroquina também pode ser usado. Para casos moderados a graves de lúpus, existem medicamentos imunossupressores, como a ciclofosfamida, e anticorpos monoclonais, como o belimumabe.
Cada vez mais, pequenas moléculas que modulam, em vez de suprimir, a atividade defensiva dos linfócitos, impedindo-os de desencadear reações inflamatórias, estão sendo usadas no tratamento do lúpus. Entre elas, o deucavacitinibe, um medicamento já aprovado para psoríase, está sendo estudado atualmente e pode funcionar também para diferentes tipos de lúpus.
Acesse o formulárioReferências bibliográficas
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