Como será o futuro da saúde em 2050? Descubra as previsões de doenças e expectativa de vida do Global Burden of Disease e por que investir em pesquisa hoje é fundamental para mudar esse destino.
O futuro da saúde global é uma questão urgente. De acordo com uma análise publicada na revista The Lancet em maio de 2024, o estudo Global Burden of Disease (GBD) projeta cenários de morbidade e mortalidade até 2050 para 204 países e territórios. Os resultados ajudam a visualizar os desafios e oportunidades que moldarão os sistemas de saúde nas próximas décadas.
Essas previsões, lideradas por uma equipe internacional de pesquisadores, apontam para um futuro onde as doenças não transmissíveis (DNTs) dominarão a carga global de doenças, especialmente em países com desenvolvimento socioeconômico crescente. Com base em tendências demográficas, ambientais e sociais, o estudo destaca a importância de investir em pesquisa e prevenção para garantir um futuro mais saudável e equitativo.
Projeções baseadas em dados
Para antecipar os rumos do futuro da saúde, o estudo utilizou o Índice Sociodemográfico (SDI) — uma métrica que combina renda per capita, escolaridade média e taxa de fertilidade antes dos 25 anos. Também foram considerados fatores de risco ambientais, comportamentais, nutricionais e metabólicos.
A metodologia inclui projeções específicas de mortalidade, anos de vida perdidos (YLL), anos vividos com incapacidade (YLD) e anos de vida ajustados por incapacidade (DALY), segmentados por idade, sexo, região e país. Os cenários modelados refletem não apenas tendências sanitárias, mas também impactos esperados de mudanças climáticas e trajetórias socioeconômicas futuras.
Os pesquisadores também incorporaram dados climáticos recentes do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), além de estimativas de poluição do ar e acesso a vacinas e nutrição adequada. O uso dessas variáveis torna os cenários ainda mais robustos e realistas.
O que dizem os resultados
As projeções indicam que a esperança de vida global continuará crescendo até 2050, embora de forma mais lenta do que nas décadas anteriores à pandemia da COVID-19. O aumento será mais acentuado em regiões com níveis historicamente mais baixos, como a África Subsaariana, contribuindo para uma maior equidade global.
Essa convergência na expectativa de vida entre países ricos e pobres mostra que, com políticas certas e acesso à saúde, é possível reduzir disparidades. No entanto, o ritmo desse progresso dependerá do investimento contínuo em prevenção, vacinação e controle de doenças infecciosas.
O estudo também antecipa que quatro doenças dominarão a carga de morbimortalidade em 2050: cardiopatia isquêmica, acidente vascular cerebral (AVC), diabetes e doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC). Essas enfermidades refletem a transição epidemiológica para condições crônicas, muitas vezes associadas ao envelhecimento da população e ao estilo de vida urbano.
O desafio das doenças crônicas
Em 2022, cerca de 33,8% dos DALYs eram atribuídos à incapacidade causada por doenças crônicas. Até 2050, essa proporção deverá subir para 41,1%, especialmente em regiões como a África Subsaariana, onde o número pode quase dobrar. Isso indica que os sistemas de saúde precisarão se adaptar para lidar com pacientes que vivem mais, mas com mais comorbidades.
Além de pressionar os serviços de saúde, o aumento da carga de doenças não transmissíveis exigirá políticas públicas voltadas à alimentação saudável, controle de fatores de risco metabólicos e incentivo à atividade física. Campanhas educativas e acesso a diagnósticos precoces serão vitais nesse cenário.
Embora avanços na vacinação e nutrição ainda sejam relevantes, seu impacto será limitado diante da dominância das doenças crônicas. Nesse contexto, investir em pesquisa clínica e inovação terapêutica será fundamental para enfrentar o futuro da saúde.
A importância de investir em pesquisa para o futuro da saúde
As previsões apontam para um mundo em que a maioria da carga de doenças será crônica e evitável. Por isso, o papel da ciência na criação de tratamentos mais eficazes e políticas baseadas em evidência nunca foi tão urgente. O futuro da saúde dependerá de nossa capacidade de antecipar riscos e agir de forma coordenada.
Fatores como mudanças climáticas, resistência antimicrobiana, futuras pandemias, conflitos armados e insegurança alimentar não foram plenamente considerados no modelo, mas representam ameaças reais à saúde global. Ignorar essas variáveis seria negligenciar parte essencial do futuro.
Diante disso, o investimento contínuo em pesquisa epidemiológica, desenvolvimento de novas terapias e fortalecimento dos sistemas de saúde é uma prioridade global. Apenas assim será possível garantir que as previsões positivas se concretizem — e que o futuro da saúde seja mais justo, resiliente e sustentável.
Fonte
- GBD 2021 Forecasting Collaborators. Burden of disease scenarios for 204 countries and territories, 2022–2050: a forecasting analysis for the Global Burden of Disease Study 2021. The Lancet. 2024 May 18;403(10440):2204-2256. https://doi.org/10.1016/S0140-6736(24)00568-3
- Institute for Health Metrics and Evaluation (IHME). Global Burden of Disease Study. https://www.healthdata.org