Saiba mais sobre como funciona a molécula que está sendo estudada para tratamentos contra doenças autoimunes, incluindo o lúpus eritematoso sistêmico e o lúpus discoide.
O lúpus eritematoso sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica, de múltiplos órgãos, com evolução clínica e prognóstico variáveis. Os pacientes que sofrem dessa doença apresentam reações imunológicas que se voltam contra o próprio corpo, gerando inflamação generalizada, o que impede o funcionamento correto de alguns de seus órgãos.
É por isso que a ciência está atualmente investigando novos tratamentos para combater os sintomas. Os inibidores da enzima Janus kinase (JAKi) são os que serão estudados na tentativa de combater o lúpus eritematoso a partir das células imunológicas.
O objetivo do tratamento é alcançar a remissão ou um estado de baixa atividade da doença, que está associado a melhores resultados para o paciente, incluindo a redução do acúmulo de danos, a diminuição do número de exacerbações, a retirada dos glicocorticoides e a melhora da qualidade de vida.
O papel das Janus Kinases (JAK) no LES
As Janus Kinases (JAKs) e os transdutores de sinal e ativadores de transcrição (STATs) são moléculas fundamentais na transdução de sinal de várias citocinas e fatores de crescimento em diferentes tipos de células. Essa via desempenha um papel crucial na manutenção da tolerância imunológica, e sua desregulação está implicada na patogênese de várias doenças autoimunes, inflamatórias e alérgicas, o que a torna um alvo atraente para o tratamento.
Os inibidores de JAK (JAKinibs) foram aprovados para tratar várias doenças autoimunes, incluindo artrite reumatoide, artrite psoriática e espondilite anquilosante. No contexto do LES, vários estudos clínicos estão avaliando sua eficácia, com resultados promissores para o tofacitinibe, o baricitinibe e, mais recentemente, o deucravacitinibe, sem grandes preocupações com a segurança.
Deucravacitinibe: inovação no tratamento do lúpus
O deucravacitinibe é o primeiro inibidor oral de TYK2 aprovado pelo FDA para o tratamento da psoríase em placas moderada a grave.
No LES, um estudo de fase 2 envolvendo 363 pacientes com LES ativo mostrou resultados promissores. Os pacientes que receberam deucravacitinibe 3 mg duas vezes ao dia atingiram o desfecho primário, SRI-4, na semana 32.
Além disso, os pacientes tratados com deucravacitinibe alcançaram com mais frequência o status de baixa atividade da doença lúpica (LLDAS), bem como respostas significativas em BICLA, critérios CLASI-50 e melhorias na artrite.
O futuro dos inibidores de JAK no lúpus eritematoso sistêmico
Apesar dos avanços no tratamento de doenças reumáticas, ainda há necessidades significativas não atendidas no tratamento do LES, principalmente devido à heterogeneidade e à complexidade da doença e aos desafios no planejamento de estudos clínicos.
Os inibidores de JAK demonstraram eficácia em várias doenças autoimunes, inclusive em pacientes com doença refratária, devido à sua capacidade de inibir simultaneamente várias citocinas.
No LES, os resultados dos estudos com tofacitinibe, baricitinibe e deucravacitinibe são animadores e mostram um perfil de segurança aceitável. Entretanto, são necessários estudos clínicos maiores e dados do mundo real para avaliar completamente a eficácia e a segurança dos JAKinibs, especialmente em pacientes com manifestações graves da doença, como nefrite lúpica (LN) e lúpus neuropsiquiátrico (LNPS).
Portanto, o desenvolvimento e a avaliação dos inibidores de JAK, como o deucravacitinibe, representam um avanço significativo na busca por tratamentos mais eficazes e seguros para pacientes com LES. Pesquisas contínuas e ensaios clínicos em andamento são essenciais para consolidar a função desses medicamentos no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico.
Como é o tratamento em estudo
Um novo estudo de fase 3 tem como objetivo demonstrar a eficácia da molécula em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. O estudo clínico, que já está em andamento, recrutará pacientes adultos de todo o mundo, incluindo Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México.
Se a molécula se mostrar eficaz e segura em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, ela poderá ser licenciada como um novo tratamento para a doença em vários países, inclusive na América Latina.
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