Lúpus eritematoso sistêmico

Novo tratamento para Lúpus eritematoso sistêmico em estudo

Publicado hace 2 meses por Un ensayo para mí

Um novo estudo testará a eficácia de uma molécula já usada para tratar psoríase moderada a grave. O medicamento pode melhorar a qualidade de vida de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico na América Latina.

O lúpus é uma doença autoimune caracterizada pela inflamação de vários órgãos, desde a pele até os pulmões, o coração e os rins. Os pacientes que sofrem de lúpus eritematoso sistêmico têm reações imunológicas que se voltam contra seu próprio corpo, gerando uma inflamação generalizada que impede o funcionamento correto de alguns de seus órgãos.

O lúpus eritematoso sistêmico pode apresentar vários sintomas ou permanecer silencioso por anos, manifestando-se apenas com manchas vermelhas e erupções cutâneas no rosto.

Devido à heterogeneidade dos sintomas e à dificuldade de fazer um diagnóstico preciso, até recentemente os clínicos e reumatologistas limitavam-se a tratar os sintomas de forma fragmentada, dependendo da área afetada. Assim, eles usavam cremes de corticosteroides para o lúpus cutâneo e indicavam outros medicamentos para problemas renais ou cardíacos.

Em virtude aos avanços na pesquisa científica, agora existem mecanismos comuns a todas as doenças autoimunes. É por isso que estão sendo buscados tratamentos que possam neutralizá-los em nível imunológico, independentemente da patologia em questão. Esse é o exemplo dos anticorpos monoclonais usados tanto na esclerose sistêmica quanto na artrite reumatoide.

Esse também é o caso do uso do deucravacitinibe, uma molécula já aprovada nos EUA e em outros países, incluindo a Argentina, para tratar a psoríase moderada a grave. Atualmente, esse tratamento está sendo testado em todo o mundo para lúpus, tanto em pacientes que sofrem de lúpus discoide quanto de lúpus eritematoso sistêmico (LES).

Tratamento em estudo para Lúpus Eritematoso Sistêmico

Os inibidores da enzima quinase Janus kinase (JAKi) são os que serão estudados em uma tentativa de combater o lúpus eritematoso a partir das células imunológicas.

Os inibidores de JAKi de primeira geração inibem diferentes enzimas dessa grande família bioquímica. Em contrapartida, os inibidores de JAKi de segunda geração, como o deucravacitinibe, são mais seletivos e bloqueiam um único membro da família JAK. Dessa forma, eles inibem os sinais intracelulares que contribuem para a liberação de citocinas e outras proteínas de defesa sem causar outros distúrbios.

Em particular, o deucravacitinibe é um inibidor de JAK que atua especificamente nas células de defesa para bloquear a enzima tirosina quinase 2 (TYK2). O bloqueio dessa enzima modifica a ação dos linfócitos T e evita a produção excessiva de citocinas (interleucinas 10, 12 e 23) e outras proteínas (interferons tipo 1) que mantêm a inflamação no organismo. Ao interromper a cascata bioquímica inflamatória, as crises de doenças autoimunes poderiam ser controladas.

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Estudo na América Latina para LES

Um novo estudo de fase 3 tem como objetivo demonstrar a eficácia do deucravacitinibe em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico. A pesquisa clínica, que já está em andamento, inscreverá pacientes adultos de todo o mundo, incluindo os da Brasil, Argentina, Chile, Peru, Colômbia e México.

Para participar do estudo da Bristol Myers-Squibb, os voluntários devem atender aos seguintes critérios:

-Ter entre 18 e 75 anos de idade.

-Ter sido diagnosticado há mais de 24 semanas com lúpus eritematoso sistêmico. Além disso, eles devem ser positivos para ANA, anti-dsDNA ou anticorpos anti-Sm.

-Devem ter recebido pelo menos um medicamento imunossupressor ou antimalárico.

-Podem também estar tomando esteroides, mas não devem ter tido TB nem estar infectados atualmente.

Na pesquisa clínica, metade dos pacientes receberá um comprimido de deucravacitinibe por via oral, enquanto a outra metade receberá um placebo, uma substância inerte.

Aos 13 meses, os pesquisadores avaliarão a melhora clínica em uma série de sinais e sintomas, como inchaço nas articulações, áreas afetadas da pele e fadiga. Em 3 anos, os efeitos adversos graves serão avaliados e serão realizados testes laboratoriais e cardiológicos (EEG).

Os efeitos adversos mais comuns do deucravacitinibe até o momento foram infecções respiratórias e do trato urinário, bem como erupções cutâneas e feridas na boca. Em casos raros, foram relatados distúrbios cardiovasculares.

Se o deucravavcitinibe se mostrar eficaz e seguro em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico, assim como foi na artrite psoriática, a molécula inovadora poderá ser licenciada como um novo tratamento para a doença em vários países, inclusive na América Latina. Seria o primeiro medicamento imunomodulador oral da classe dos inibidores da enzima TYK2 e revolucionaria o tratamento do lúpus.

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