Essa doença torna os pulmões rígidos e causa deterioração progressiva da função respiratória. Descubra em quais tipos de pneumonia ela ocorre e como a fibrose pulmonar pode ser interrompida.
A fibrose não é uma doença em si, mas um distúrbio do tecido celular que pode afetar diferentes órgãos. Pode ocorrer no fígado, nos rins, no coração, no intestino ou nos pulmões. Nesse caso, a fibrose geralmente torna os pulmões espessos e inflexíveis, dificultando a respiração e levando à morte dentro de 2 a 5 anos após o diagnóstico.
A fibrose pulmonar pode ocorrer sem causa aparente e, por isso, é chamada de “fibrose idiopática”. Mas também pode ser o resultado de uma doença, como tuberculose, esclerodermia ou artrite reumatoide, ou até mesmo o resultado de quimioterapia para câncer. O desenvolvimento pode ser mais lento, no que é conhecido como “fibrose progressiva”, ou pode ser confundido com uma das outras 8 pneumonias intersticiais, que afetam o interstício entre as paredes dos alvéolos e os espaços que circundam os vasos sanguíneos e as pequenas vias aéreas.
As pneumonias intersticiais resultam em um acúmulo de células inflamatórias no tecido pulmonar, causando falta de ar e tosse. Com o tempo, essas doenças levam ao enrijecimento do tecido pulmonar e à remodelação que se assemelha à estrutura de um favo de mel.
Na maioria dos casos, a fibrose aparece após os 40 anos de idade – a média é de 66 anos – e é reconhecida pelos seguintes sintomas:
Fadiga
Falta de ar
Sensação de asfixia ao esforço
Respiração rápida
Tosse seca
Azia
Fibrose pulmonar: rara, mas letal
Nos Estados Unidos, estima-se que 40.000 pessoas morram a cada ano de fibrose pulmonar idiopática. De acordo com o Registro Latino-Americano de Fibrose Pulmonar Idiopática (REFIPI), 974 casos foram identificados entre 2014 e 2019 em 14 países da região. Mas há um grande número de pacientes não diagnosticados. Estima-se, por exemplo, que na Argentina existam entre 6.000 e 12.000 pacientes com fibrose pulmonar de diferentes tipos.
O diagnóstico geralmente é feito por meio de tomografia computadorizada e é difícil porque a fibrose pulmonar é frequentemente confundida com outras pneumonias intersticiais. Às vezes, é necessária uma biópsia pulmonar para analisar anatomicamente o tecido. A incapacidade respiratória é medida com dispositivos conhecidos como “espirômetros”, que estabelecem a capacidade máxima de expelir ar dos pulmões (Capacidade Vital Funcional ou FVC).
Em muitos casos, há um histórico familiar hereditário, e o tabagismo ou a exposição ocupacional ao amianto também são muito comuns nas pessoas que desenvolvem fibrose pulmonar. Além disso, os homens têm maior probabilidade de sofrer de fibrose pulmonar do que as mulheres, em uma proporção de 2:1.
O prognóstico da fibrose pulmonar idiopática não é bom. A doença costuma ser complicada por hipertensão pulmonar, insuficiência cardíaca, apneia do sono, enfisema, pneumotórax (pulmão colapsado) ou câncer de pulmão.
Cicatrização sem controle
Embora possa ter causas diferentes, os especialistas agora concordam que a fibrose pulmonar começa quando há uma lesão nos alvéolos pulmonares, as pequenas estruturas em forma de saco onde o ar oxigenado do ambiente é trocado pelo dióxido de carbono transportado pelo sangue. Essa troca de ar já utilizado no corpo por ar “novo” (com oxigênio) é essencial para a vida e ocorre nos alvéolos e bronquíolos que compõem o parênquima pulmonar.
Como em qualquer ferida, as rupturas no tecido alveolar desencadeiam uma série de respostas inflamatórias e reparadoras, nas quais certas células chamadas “fibroblastos” são ativadas, liberando colágeno e moléculas conhecidas como “fatores de crescimento”, e várias células defensivas (macrófagos, monócitos e linfócitos T e neutrófilos) também estão envolvidas, liberando citocinas inflamatórias. Isso resulta na formação de “cicatrizes” nos tecidos pulmonares, que são visíveis em exames de raios X ou tomografia computadorizada.
Diferentemente do processo normal de cicatrização que ocorre após uma ferida na pele, na fibrose pulmonar o tecido cicatricial não retorna ao seu estado anterior e os materiais acumulados durante o reparo não são removidos. Em vez disso, os fibroblastos proliferam cada vez mais e se desenvolvem em células especializadas na produção de colágeno e de um material extracelular (miofibroblastos) que preenche os interstícios dos pulmões. Os alvéolos acabam sendo substituídos por cistos rígidos, causando a falência funcional do órgão.
Deterioração progressiva, mas nem sempre irreversível
Por enquanto, quando a fibrose progride, o oxigênio é usado em regime ambulatorial para ajudar os pacientes a continuar sua vida diária. Porém, em pouco tempo, os pulmões ficam rígidos demais para expelir o ar usado e receber oxigênio, e a respiração se torna impossível.
Embora o processo tenha sido considerado irreversível até recentemente – e só pudesse ser combatido por meio de transplante de órgãos – agora existem alguns novos tratamentos que podem retardar parcialmente a progressão da fibrose. Além disso, novas moléculas capazes de interromper a deterioração respiratória a longo prazo e com menos efeitos adversos estão sendo experimentadas.
O desafio é encontrar pacientes nos quais testar esses tratamentos experimentais, pois a fibrose pulmonar é uma doença rara, afetando de 13 a 90 pessoas por 100.000 habitantes, de acordo com vários estudos. A forma idiopática é ainda mais rara: apenas 1 a 5 pessoas em cada 10.000 sofrem com ela.
Por isso, a chegada de novos medicamentos é lenta, embora haja uma esperança crescente no horizonte, com medicamentos destinados a combater os dois processos centrais da doença: inflamação crônica e fibrose progressiva.
Referências bibliográficas
Caro F, Buendía-Roldán I, Noriega-Aguirre L, Alberti ML, y cols. Latin American Registry of Idiopathic Pulmonary Fibrosis (REFIPI): Clinical Characteristics, Evolution and Treatment. Arch Bronconeumol. Jun 2022;4:S0300-2896(22)00329-5. doi: 10.1016/j.arbres.2022.04.007. PMID: 35798664. Henderson NC, Rieder F, Wynn TA. Fibrosis: from mechanisms to medicines. Nature 2020;587:555-566.