Tanto no sangue quanto na urina, existem moléculas que podem ser usadas como sinais que indicam um diagnóstico de lúpus eritematoso sistêmico. Saiba mais sobre os novos biomarcadores que estão sendo usados.
O lúpus é uma doença difícil de diagnosticar, pois os pacientes podem apresentar uma variedade de sintomas visíveis: uma erupção cutânea em forma de borboleta no rosto, dor intensa no peito, dificuldade para respirar ou vários outros sintomas. Em média, pode levar até dois anos para que os pacientes obtenham um diagnóstico preciso.
O lúpus eritematoso sistêmico é uma doença autoimune na qual o sistema de defesa do corpo ataca seus próprios tecidos e órgãos. Portanto, determinados anticorpos (proteínas que são detectadas no sangue dos pacientes) são o principal marcador para o diagnóstico. Mas não são apenas os anticorpos ANA, anti-dsDNA, anti-MS ou antifosfolípides que funcionam como biomarcadores do lúpus. Há muitos outros que estão sendo investigados.
Como diagnosticar o lúpus: os exames
Para fazer o diagnóstico nos pacientes, os reumatologistas se concentram nos sintomas e nos sinais visíveis.
Entretanto, eles também identificam alterações em determinados parâmetros que podem ser identificados no sangue, como anticorpos e complementos C3 e C4 (proteínas envolvidas na destruição defensiva de agentes estranhos).
Em geral, observa-se uma diminuição dos glóbulos vermelhos no sangue, o que é classificado como “anemia”, e uma superabundância de glóbulos brancos. Principalmente os linfócitos B, que produzem anticorpos e ativam as respostas defensivas de longo prazo dos linfócitos T.
As plaquetas geralmente estão diminuídas, o que está associado à formação de trombos ou coágulos e, portanto, a taxa de coagulação do sangue e a taxa de sedimentação de eritrócitos são medidas. Valores moderadamente altos de proteína C reativa, um indicador de estresse celular e inflamação durante infecções concomitantes ao lúpus, também podem aparecer no sangue.
Assim como o lúpus eritematoso sistêmico, caracteriza-se por uma inflamação permanente causada pela infiltração de linfócitos nos órgãos. Diversas moléculas defensivas (citocinas, quimiocinas, interferons) podem ser identificadas nas células sanguíneas e nos tecidos e órgãos, como a pele e o rim dos pacientes.
No nível imunológico, há aumentos no interferon alfa e em certas citocinas promotoras de inflamação, como as interleucinas IL-6, IL-1 e IL-18. O BAAF é um fator que ativa os linfócitos B e estimula a produção de imunoglobulinas. Vários estudos demonstraram que esse fator funciona como um bom biomarcador no sangue para o lúpus.
O excesso de proteína (proteinúria) pode ser encontrado na urina, devido à dificuldade de filtragem da proteína pelos rins, e o sangue também pode aparecer na urina (hematúria).
Em casos de nefrite lúpica, uma complicação renal que ocorre em mais da metade dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico.
A inflamação do rim pode ser medida pelo aumento da creatinina no sangue e de determinadas moléculas de defesa (conhecidas pelos acrônimos CXCL2, CXCL4, etc.) na urina.
Os níveis de proteína NGAL, bem como o aumento das células T CD4, também indicam lúpus ativo no rim, o que prejudica sua capacidade de filtrar resíduos.
Avanços moleculares na doença
97% dos pacientes com lúpus eritematoso sistêmico têm anticorpos antinucleares (ANA) no sangue. Eles também podem ter anticorpos contra DNA de fita dupla (anti-dsDNA) e anticorpos anti-Smith (anti-SM), que atacam proteínas no núcleo das células em 30 a 40% dos pacientes.
Esses três anticorpos são comumente usados para confirmar o diagnóstico de lúpus. Em alguns pacientes, os anticorpos antifosfolípides (AfP), que marcam um estreitamento dos vasos sanguíneos e podem causar coágulos que resultam em infartos cardíacos ou cerebrais, também são procurados.
Além desses anticorpos, muitos outros marcadores moleculares estão sendo estudados e validados. A bioinformática e a inteligência artificial estão abrindo um novo mundo nesse campo e o progresso nos biomarcadores é incessante.
Testes sofisticados agora podem detectar a atividade de determinados genes ligados ao lúpus eritematoso sistêmico em células plasmáticas no sangue ou em tecidos do corpo.
Também existem métodos para sequenciar o RNA que controla a diferenciação das várias células que compõem o arsenal imunológico. Novos testes também podem detectar determinadas sequências pequenas de RNA (miRNA) que regulam a expressão de proteínas e são afetadas no lúpus eritematoso sistêmico.
O objetivo da ciência em pacientes com LES
Marcadores antigos e novos podem ser usados não apenas para diagnosticar a doença e diferenciá-la de outras doenças autoimunes, como a artrite reumatoide, mas também para monitorar a progressão e as crises do lúpus.
Alguns biomarcadores servem até mesmo para estabelecer um prognóstico para o lúpus eritematoso sistêmico e as chances de um paciente reagir positivamente a um novo medicamento.
O lúpus ainda é uma doença crônica incurável, mas há cada vez mais inovações para tratá-lo sem acumular danos graves aos órgãos, especialmente ao coração e aos rins.
Obter um diagnóstico precoce do lúpus eritematoso sistêmico é importante para manter os sintomas sob controle com medicação combinada com um estilo de vida saudável e sem estresse.
Referências bibliográficas:
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