Descubra Saiba como a miastenia gravis pode afetar crianças e adolescentes. Tudo sobre os sintomas, o diagnóstico e o tratamento estudado pela ciência para tratar essa doença autoimune.
A miastenia gravis é uma doença rara em adultos e ainda mais em crianças, que correspondem a 15% dos casos. Em geral, a “miastenia juvenil” afeta principalmente o nervo óptico e os nervos que controlam os músculos dos olhos, levando à deficiência visual e à queda de uma pálpebra.
Também pode causar fala arrastada e problemas de deglutição, além de fadiga, que aumenta ao longo do dia.
Embora não se saiba exatamente o que causa a doença, observou-se que ela geralmente surge após uma infecção. Mas há também casos infantis que ocorrem congenitamente devido a várias mutações.
Sintomas da miastenia gravis em jovens
Nos casos de miastenia gravis congênita, a fraqueza muscular é observada desde o nascimento, e o bebê demora a atingir determinados marcos de desenvolvimento, como sentar, engatinhar ou andar.
No entanto, na maioria dos casos de miastenia juvenil, o sistema imunológico é perturbado e os pacientes geram anticorpos contra moléculas envolvidas na transmissão de mensagens nervosas para os músculos.
Por exemplo, os pacientes podem desenvolver anticorpos contra o receptor de acetilcolina (AChR ou ACRA) ou a tirosina quinase específica do músculo (MuSK), duas proteínas nas membranas dos neurônios motores, afetando a comunicação entre os nervos e os músculos e diminuindo a contração muscular.
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A partir do primeiro episódio de miastenia, as crianças e os jovens podem apresentar novos episódios nos quais os sintomas de fraqueza muscular pioram (surtos ou exacerbações), mas também podem apresentar longos períodos de remissão, nos quais não sentem nenhuma alteração nos músculos.
Portanto, é importante que eles recebam tratamento precoce e constante com medicamentos que aumentem a disponibilidade de acetilcolina (um neurotransmissor envolvido na transmissão neuromuscular) e medicamentos que suprimam ou moderem as reações imunológicas contra os próprios neurônios motores.
É essencial que as crianças e os adolescentes comecem a tomar um inibidor da acetilcolinesterase (por exemplo, piridostigmina) desde cedo e não parem de tomá-lo, mesmo que se sintam bem.
Quando esse tratamento é insuficiente, podem ser adicionados medicamentos imunossupressores (começando com corticosteroides) ou imunomoduladores (como rituximabe), que “desligam” as reações exageradas de defesa do corpo e reduzem a inflamação do nervo. Infelizmente, esses medicamentos geralmente deixam o corpo indefeso contra infecções ou até mesmo propenso a desenvolver certos tipos de câncer.
Por isso, continuam as pesquisas de novos medicamentos eficazes para combater a doença autoimune e obter a remissão dos sintomas da miastenia gravis juvenil com menos efeitos adversos.
Tratamento em investigação para crianças com miastenia gravis
Um medicamento biológico muito promissor (satralizumabe), que já foi autorizado na Europa para tratar neuromielite óptica em crianças acima de 12 anos, está sendo testado no Brasil. Esse histórico significa que os efeitos adversos do novo medicamento já são conhecidos (ele é seguro) e sua eficácia é boa em uma doença muito semelhante à miastenia, embora seus anticorpos sejam diferentes.
O ensaio clínico de fase 3, atualmente em andamento no Brasil e em outros países do mundo, tem como objetivo comparar os efeitos do satralizumabe com um placebo (uma injeção inofensiva) na miastenia gravis generalizada. O medicamento experimental (satralizumabe) é um anticorpo monoclonal injetado por via subcutânea no abdome ou na coxa a cada 4 semanas.
Esse anticorpo recombinante, feito a partir de uma imunoglobulina, liga-se por um longo período ao receptor da interleucina-6 (IL-6), uma das citocinas que desencadeiam reações defensivas no organismo. Ao se ligar a esse receptor, ele inibe as cascatas de sinalização para produzir IL-6 e impede a ativação dos linfócitos B e T que causam reações inflamatórias autoimunes. Espera-se que isso reduza os sintomas da miastenia e diminua significativamente os surtos em crianças e adultos jovens. Os efeitos adversos esperados do satralizumabe, com base nos estudos realizados até o momento, são o aumento do colesterol e alguns danos ao fígado.
Como posso me candidatar para participar?
No Brasil, o estudo da Roche está atualmente aberto a jovens de 12 a 17 anos que tenham sido diagnosticados com miastenia gravis com envolvimento de múltiplos grupos musculares e anticorpos AChR confirmados.
– Além disso, é necessário que os jovens não tenham sido submetidos à cirurgia do timo (uma cirurgia que às vezes é recomendada na população pediátrica), não tenham sofrido uma crise miastênica nos últimos 3 meses e não tenham recebido uma vacina de vírus vivo ou atenuado nos últimos 6 meses.
– Metade dos jovens participantes receberá o medicamento inovador (juntamente com a terapia de base existente) por 24 semanas, enquanto a outra metade receberá o placebo (juntamente com a terapia de base). Além das injeções subcutâneas planejadas a cada 4 semanas, uma dose extra será injetada na semana 2 em ambos os grupos.
– A primeira parte do estudo (6 meses) será cega, ou seja, nem o investigador nem o paciente ou seus pais saberão o que estão recebendo. Em uma segunda fase, com duração estimada de 2 a 3 anos, todos os participantes que tiverem passado da primeira fase e desejarem receberão satralizumabe a cada 4 semanas.
– Durante o estudo, vários estudos serão realizados gratuitamente com os jovens.
– O consentimento deles é necessário para a participação, bem como o consentimento formal dos pais.
– Ao final do estudo de 6 meses, a capacidade de realizar atividades diárias (falar, mastigar, engolir, respirar, escovar os dentes, pentear o cabelo, levantar-se de uma cadeira etc.), a gravidade dos sintomas e as mudanças positivas na qualidade de vida serão avaliadas por meio de diferentes escores.
Referências bibliográficas:
Clinical Trials. A Study To Evaluate Efficacy, Safety, Pharmacokinetics, And Pharmacodynamics Of Satralizumab In Patients With Generalized Myasthenia Gravis. https://clinicaltrials.gov/study/NCT04963270?cond=Myasthenia%20Gravis,%20Generalized&term=WN42636&rank=1#study-overview
O’Connell K, Ramdas S, Palace J. Management of Juvenile Myasthenia Gravis. Front Neurol. 2020 Jul 24;11:743. doi: 10.3389/fneur.2020.00743. PMID: 32793107; PMCID: PMC7393473.
Peragallo JH. Pediatric Myasthenia Gravis. Semin Pediatr Neurol. 2017 May;24(2):116-121. doi: 10.1016/j.spen.2017.04.003. Epub 2017 Apr 7. PMID: 28941526.